Para além das disfluências
Quando se fala em gaguez, muitos associam às interrupções que são ouvidas no discurso. Não está errado, gaguez também é isso, mas o que muitos desconhecem é que a gaguez é muito mais do que simplesmente gaguejar.
As interrupções na fala são apenas uma pequena parte de toda a complexidade inerente à gaguez. Sabemos que as pessoas que gaguejam podem ter reações negativas à gaguez, incluindo ansiedade para falar, dificuldade na comunicação e um impacto negativo na qualidade de vida, que pode incluir diversas esferas da vida como a pessoal, social académica e profissional. As pessoas que gaguejam podem experienciar sentimentos de constrangimento, ansiedade e vergonha que podem levar a tensão e esforço na produção de discurso ou ao isolamento social, mediante evitamento para falar.
Frequentemente os interlocutores também reagem de forma negativa. Por exemplo, crianças que gaguejam têm mais tendência a ser gozadas pelos seus pares e os adultos que gaguejam reportam com frequência discriminação nos seus locais de trabalho. Estas reações fazem com que seja ainda mais difícil para as pessoas que gaguejam interagirem com os outros e dizerem tudo aquilo que querem dizer.
A variabilidade da gaguez
Talvez este seja um dos aspetos mais frustrantes da condição de gaguejar. A gaguez não é constante ao longo dos dias e difere de acordo com o contexto ou com o interlocutor. Desta forma, as pessoas que gaguejam experimentam uma grande perda de controlo e nem sempre conseguem prever quando é que vão gaguejar ou quando é que vão conseguir falar de forma fluente.
Esta variabilidade também deixa pais e professores muitas vezes confusos, chegando mesmo a deixá-los na dúvida se realmente será gaguez.
Lidar com a gaguez não é fácil, mas à medida que se vai compreendo mais sobre esta perturbação e os interlocutores compreendem melhor a perda de controlo e esta variabilidade intrínseca, tudo se torna mais fácil, sobretudo para a pessoa que está a gaguejar, pois sente que está a ser respeitada e ouvida! O Terapeuta da Fala, com formação específica na área, é o profissional indicado para ajudar as crianças e adultos que gaguejam, bem como os seus familiares, nesta jornada de compreensão e aceitação.
Mónica Rocha
Terapeuta da Fala especializada em Perturbações da Fluência
Doutorada em Ciências da Cognição e da Linguagem